sexta-feira, 30 de março de 2012

Amor à liberdade, Liberdade ao amor

Amor sem liberdade não é amor, é posse
É prisão sem grades
São grades invisíveis
É querer tornar o outro invisível aos outros
É fazer do outro altar e ele próprio lá sacrificar
É viver em função do outro e não querer que ele viva
É não viver e esperar que ele morra por você

Se no amor não houver liberdade
também não haverá amor
Ele fenece, é defenestrado
É esmagado, vira um fardo
Não deveria se tornar poesia ou canção
Declamemos o amor para vivermos livres
Cantemos a liberdade para sermos amor

domingo, 11 de março de 2012

Multifacetado ser

Pensar com os sentidos
Empiria transmitida ao intelecto
Paixões que confundem a mente
que fundam a gente

Sentir com o pensamento
É razão que se quer carne
A razão não se deseja pura
Desejo de desejar
Vontade de querer

Medo de só pensar
Angústia no encontro do eu consigo mesmo
Sou um, sou dois, sou legião
Sou eu

Receio de reduzir a vida ao mero sentir
Expectativa e desencanto com outrem
Sou outro de mim mesmo, sou outro do outro
Sou outro

domingo, 25 de dezembro de 2011

Soneto Cisão

Já não mais me espanto
com tua prática número um
afinal este teu pranto
tornou-se uma prática comum

Não venhas com falsas iras
ou com tuas chantagens
já não vejo vantagens
em tuas mentiras

Ponha-te pra fora
suportei-te por demais
agora já é hora

Foste já com demora
Perceba agora minha paz
vendo-te ir embora

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Variações sobre a mesmice

Vozes ecoam na minha cabeça
Ecos soam no meu coração
Pessoas escoam pelas ruas
Sons se multiplicam na escuridão

Vozes ecoam no meu coração
Ecos soam na minha cabeça
Pessoas escoam na escuridão
Sons se multiplicam nas ruas

Vozes se multiplicam pelas ruas
Ecos escoam na escuridão
Pessoas soam na minha cabeça
Sons ecoam no meu coração

Vozes soam na minha cabeça
Ecos escoam no meu coração
Pessoas se multiplicam pelas ruas
Sons ecoam na escuridão

Vozes se multiplicam na minha cabeça
Ecos ecoam pelas ruas
Pessoas soam no meu coração
Sons escoam na escuridão

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Desperto na madrugada tardia
e desperta em mim uma nostalgia
que arranca-me o sono antes profundo
deixando acordado e mudo

Já desponta ao longe o dia
seus raios afetam-me como magia
devolvem-me às profundezas d'um mundo
um sono de sonhos sem fundo

domingo, 12 de setembro de 2010

Palavras à inautenticidade

Tenta-se ser
parecendo parecer
um modelo para ser
mas para de ser
ao se parecer

Parece se depreciar por nada ser
pela pressão por precisar parecer
porque para ser
crê precisar parecer

para ser
parecer
padecer

E por o mesmo não ser
o fracasso jaz em parecer
e em apenas espelho padecer

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A razão dos sentidos, ou os sentidos da razão.

À beira do sofá
O livro à mão
Sobre a mesa: o relógio
À minha frente: a televisão

Ouço o passar dos segundos
Esse compasso me inquieta
Tic - tento ler
Tac - tento pensar

Vejo a televisão sem som
Mesmo silenciosa sinto um incômodo
Política e comércio em imagens
Política é comércio
Tantos gestos, tantas cores...

Toco o livro
Estou impaciente com o entorno
O conhecimento não conhece a osmose
As mãos não lêem nem pensam

Inspiro o ar tentando respirar algumas frases
Engulo a saliva como se saboreasse conceito

Só é possível filosofar com sentidos e intelecto.